Snow

POR MARCELO ROSENTHAL

— 

          Às vezes, por um trivial olhar, conseguimos identificar, inferir situações que estão à nossa volta. Todavia, há momentos nos quais o olhar há de ser aprofundado, investigativo, atento para compreender todos os intrincados fatos a nos rodearem. Como deve ser o nosso olhar para a língua? A língua é simples e complexa simultaneamente. Simples a ponto de crianças que sequer ainda foram desfraldadas usarem-na com intimidade, compreendendo as mensagens que lhes chegam e fazendo-se entender, quando necessário. Entretanto, também se torna complexa, porquanto açambarca um emaranhado gigantesco de normas e regras que constituem um código assentado para sua utilização.

          Temos o nefando hábito de estabelecer cotejos do Português com os demais idiomas. Já ouvimos, em diversas oportunidades, que o Inglês é muito mais fácil. Mas será que essa analogia é cabível?

          Eu sempre faço questão de enfatizar que não ensino Português para ninguém. Os meus alunos já conhecem muito bem a língua desde os quatro ou cinco anos. Todos, em plena infância, já têm o domínio suficiente da língua-mãe para o seu principal escopo: a comunicação. Quando estudamos uma língua estrangeira, nossa finalidade é tão somente possuir justamente a capacidade da comunicação e, no máximo, não cometer erros gramaticais crassos ou estigmatizados por nativos do idioma. Dessa forma, o que buscamos na segunda língua é o que nós já temos na primeira desde quando ainda apertávamos as mãos de nossos pais para atravessarmos a rua.

          Então, o que distingue o estudo do Português do das demais línguas? O que buscamos quando estudamos a língua portuguesa?

          Se o cândido olhar – a habilidade para a arte da comunicação - já está internalizado na formação do caráter do indivíduo, o que almejamos – quiçá alvejamos - é o olhar minucioso, a análise detalhada das estruturas linguísticas, o aperfeiçoamento da intelecção das mensagens, a identificação de possíveis falhas e vícios gramaticais convencionados, com o consequente esmero na construção textual, levando-se em conta a correção, a coesão, a coerência e, até mesmo, a estética.

          Assim se deve estudar Português para concursos públicos, mormente o do Itamaraty. O aluno deve ter em mente que não aprenderá Português, mas sim a fazer uma prova específica.

          Destarte, o estudo deve abarcar duas fases: a primeira consiste em transformar as doutrinais gramaticais implícitas em explícitas, ou seja, concretizar os conceitos morfossintáticos, que são utilizados no cotidiano, mesmo que não os percebamos. Enfim, é reconhecer as regras de crase, colocação pronominal, pontuação, regência, concordância, classes gramaticais, funções sintáticas, classificação de orações, funções e figuras de linguagem, tipologia e gênero textual etc.

          A segunda consiste em exercitar, exercitar, exercitar, exercitar... exercitar muito. Resolver questões, sobretudo da banca IADES e das provas anteriores do IRBr, é postura imprescindível para atingir-se a aprovação no concurso.

          Como diria o poeta, gênio e – não esqueçamos – diplomata Vinícius de Moraes: “A vida é a arte do Encontro.”. E aqui, para o êxito nos estudos para o Itamaraty, é a arte do encontro da determinação com a objetividade, da rotina com a disciplina, do conhecimento teórico com os exercícios, do comezinho olhar com o sofisticado olhar.


Marcelo Rosenthal

Servidor público e Professor

Servidor público do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª região e professor de Português com mais de 30 anos de experiência. Graduado em Letras Português-Alemão pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, atua como professor em diversos cursos preparatórios para concurso. Autor do livro Gramática para Concursos (editora Impetus - 8ª edição) e coautor do livro Interpretação de Textos e Semântica para Concursos (editora Impetus - 3ª edição).

Quer ler tudo da Praeterea?

Deixe seu e-mail e você será avisado a cada novo artigo publicado. Você terá ainda acesso imediato ao guia mais completo já escrito sobre planejamento de estudos: o artigo Tic Tac, parte III, escrito por Marcílio Falcão, exclusivo para assinantes desta lista.

Não fazemos spam. Esta lista é exclusiva para divulgação dos artigos da Praeterea.

Cursos recomendados

 

Prepare-se para o concurso de diplomata com os nossos melhores cursos!

Artigos recomendados

 

Leia os artigos que mais fizeram sucesso no meio cacdista.

Guia de Reprovação para o Concurso de Diplomata (CACD)

Por MARCÍLIO FALCÃO

Ser reprovado no concurso dos sonhos é, para muitos, uma experiência das mais gratificantes. Pense nas várias vantagens de nunca deixar de ser um ceacedista: não precisa trabalhar, é sustentado pela família; tem agenda flexível, acorda ao meio-dia sempre que quer; dispensa compromissos indesejados porque tem que estudar...

LEIA O ARTIGO...

O princípio da especificidade na preparação para o CACD

Por MARCÍLIO FALCÃO

Sérgio Mallandro, ícone do humor da década de 80, conquistou fama principalmente pelas pegadinhas que pregava e pela irreverência de jamais levar nada a sério. Em apresentação de stand-up, há uns quantos anos, Mallandro disse que não comparece mais a funerais. Nos últimos em que marcou presença, não conseguia lidar...

LEIA O ARTIGO...

Tic Tac (parte I)

A frustração da reprovação; o (re)começo dos estudos; expectativas realistas de aprovação e metas de estudo.

Por MARCÍLIO FALCÃO

Há 14 anos tenho participado da preparação de outros candidatos para o CACD. Não é com tanta alegria que revelo estar muito mais acostumado a lidar com a frustração da reprovação do que com a indescritível felicidade dos que passam, que são uma minoria. Entre os reprovados que sequer cheguei a conhecer, decerto há centenas que...

LEIA O ARTIGO...